domingo, 15 de dezembro de 2013

Tu estiveste sempre presente!

Avó, hoje vou, pela primeira vez tratar-te por "tu" e não te vais importar...
Ontem, foi o jantar dos teus 1oo anos. Já partiste, mas estavas lá no nosso meio.
E os farrapinhos das nossas memórias sucediam-se entre lágrimas e risos de recordações,
construindo o mundo, o nosso mundo familiar.
 Os teus bisnetos, netos, filhos e sobrinhos ali estavam a "partilhar-te". Tu és um bocadinho de cada um de nós. Tive pena que o David não pudesse ter vindo de Lisboa, mas eu representei-o...
Lembras-te de quando eu e a Elsa "disputávamos" a atenção da nossa prima Lígia? Tu conseguias sempre, com palavras sábias, que ficássemos bem, sem zangas...
O entusiasmo com que tu nos abraçavas depois de algum tempo sem nos veres!
A salinha da costura da  casa de Costa Cabral em que eu, às vezes, me refugiava a ler. Foi lá que com 12 anos tive o primeiro contacto com Victor Hugo através de duas adaptações juvenis dos Miseráveis. Os livros "Gavroche" e "Cosette" eram do Mário e eu "que já era crescida" não quis brincar com os mais novos.
Tudo isto, e muito mais haveria para dizer, foi o fio ténue e resistente que tu teceste e que, apesar das distâncias, ainda fazes questão que nos envolva, a todos.
De ti guardo a tolerância que me ensinaste, o gosto pela cozinha e bordados/ malhas (mas estou longe de ser perfeita como tu eras).
Aprendi contigo a valorizar as coisa pequenas da vida, mas que são tão grandes!...

Quero deixar umas palavrinhas ao Avô...
Foram um casal unido, apesar das dificuldades que tiveram. Isso foi, para mim, um exemplo de tranquilidade... É assim que quero continuar a levar a minha vida...
Avô, tu também estiveste lá, ontem. Recordei o "Burro Rinchão" e a "Gatolândia"...
Agora recordo aquela tarde, no Mindelo, em levaste a "pequenada" para o pinhal à "caça", mas sem estragar a Natureza. Tu eras, por vezes, rígido nas tuas convicções e eu, na minha adolescência, gostava, um bocadinho, de te arreliar... Mas os valores que transmitiste à minha Mãe e que ela me passou estão bem cimentados em mim.

Obrigada Marta! Tu tiveste a ideia... Com os teus pais e o teu irmão construíste um acontecimento inesquecível.
Obrigada a todos!


domingo, 7 de abril de 2013

Porquê?!...

Há um ano, na Fontinha, uma escola que tinha sido abandonada, foi  ocupada com o intuito de apoiar uma população desfavorecida da cidade do Porto. Apoiava sobretudo crianças e desenvolvia atividades culturais desde o teatro a artes plásticas. Esta escola foi fechada pela Câmara Municipal do Porto e o Projeto foi inviabilizado.
Hoje a televisão fala de atividades culturais apoiadas pela Câmara Municipal do Porto num edifício da Avenida dos Aliados...
Porquê?!...
Será que estas atividades, já fazem parte de pré-campanha eleitoral? Provavelmente sim. A quem são dirigidas?
Mas a população da Fontinha e quem a apoiou não esquece!...
As medidas de fachada não são justas e não se direcionam para o bem estar das populações verdadeiramente carenciadas...
Parece que a cultura chega agora à cidade... e a política cultural é uma desgraça. Começa-se por não haver um Ministério da Cultura e as verbas para desenvolver a cultura em Portugal são cada vez menores...

quinta-feira, 21 de março de 2013

Ainda sobre o Dia Intertnacional da Mulher



 
O Dia Internacional da Mulher passou, mas a luta pela igualdade de direitos e igualdade de oportunidades continua!...
Numa época de recessão as Mulheres continuam a ser as que mais sofrem porque as mentalidades obscurantistas se espelham nas medidas de impedimento da continuação da formação dos(das) jovens num ensino, de novo, mais elitista; pelo desemprego galopante que as mulheres são as primeiras a sentir (por exemplo: despedimento por maternidade depois de trabalhar numa empresa muitos anos)...
Estamos numa situação em que a Mulher cada vez mais é remetida para casa, não sendo possível que desempenhe os seus direitos de cidadnia...
Eu vi este filme e escrevi algo sobre ele que gostava de partilhar com quem me ler... Se puderem vejam-no também.
 
A fonte das Mulheres
Realizador: Radu Mihaileanu
Sinopse:
Numa aldeia do Magreb uma comunidade vive sem água e sem luz elétrica, mas é a água que desencadeia o processo de luta que move a ação de várias mulheres lideradas por Leila, que é apoiada por Velha Espingarda. A luta vai caracterizar-se por uma greve de sexo (greve ao amor) até que os homens da aldeia também vão buscar a água à única fonte que é distante. Há resistência porque, por tradição, esta é uma tarefa feminina.
Que dizer deste filme?!...
É um filme agradável e ao mesmo tempo denso, sobretudo nos diálogos que se revelam muito importantes, verdadeiros e imprescindíveis. Nada está a mais… Tudo faz parte de um conjunto que é equilibrado, e assertivo.A fonte, onde as mulheres vão buscar água, por caminhos íngremes e sinuosos, vai ser o ponto de partida para a revolta de mulheres.
O filme começa em paralelo com o nascimento de um bebé rapaz e a perda de um bebé na fonte porque uma mulher grávida cai com os baldes cheios de água e devido ao esforço aborta.
Leila, uma das mulheres da aldeia, que sabe ler, casada com o professor, vai liderar uma luta que se vai traduzir pela recusa do sexo. As mulheres recusam-se a ter relações sexuais com os maridos até que os homens também vão buscar água. Esta luta vai ter muitas resistências de algumas mulheres, mas sobretudo da maioria dos homens, do Imã (chefe religioso) e do Xeque (chefe administrativo). Há um homem que se destaca no apoio à luta das mulheres que é o professor Sami, marido de Leila e uma mulher que se destaca no sentido contrário, pela oposição que é Fátima, sogra de Leila e mãe de Sami.
Quando as mulheres hesitam em avançar com a luta pela água, Velha Espingarda, uma anciã que apoia Leila fala da sua felicidade até aos 14 anos porque com essa idade a obrigaram a casar, sem ela ter escolhido; porque também ela tinha perdido filhos na fonte, assim como todas as mulheres ali presentes. “Muitas formigas arrastam um leão”, referindo-se à luta.
Na comunidade alguns homens humilham e batem nas mulheres, obrigando-as a furar a greve. Velha Espingarda dá conselhos para conseguirem resistir.
Sami fala do Corão esclarecido – expansão do Corão das luzes, diz a Leila que a luta é justa, mas que ela seja prudente, fazendo a greve com respeito. Tenta que os pais deixem as raparigas ir à escola, mas há a resistência familiar e do próprio Imã que diz ser o lugar das raparigas perto das mães e haver o perigo delas quererem continuar a estudar na cidade.
Na cidade, depois de já terem posto as infraestruturas para a electricidade, que tarda em chegar e que chegará primeiro que a água, o burocrata diz a Sami que as mulheres se tiverem água mais perto, canalizada e eletricidade vão ficar preguiçosas e vão querer uma máquina de lavar roupa…
À medida que a greve avança começa a sentir-se desestabilização na vida da aldeia, o que também acontece pela chegada de um jornalista que outrora tinha tido uma relação com Leila. Esta situação ao ser descoberta por Sami, vai fazê-lo vacilar, mas por fim vai/ vão colaborar com as mulheres quando estas são proibidas de participar nas Festas das Colheitas onde iriam denunciar a situação.
Vai ser o véu (a burka) que vai permitir que as mulheres ultrapassem essa proibição. Conseguem com uma dança denunciar a situação e apelar para a solidariedade de outras aldeias. São crianças que vestem as burkas e são desviadas para uma caverna e vigiadas por homens, enquanto decorre a Festa das Colheitas. O jornalista escreve um artigo de apoio a esta luta.
Por fim, a luta é ganha. Os homens dizem que sempre as entenderam e as apoiaram…
A água é canalizada para uma fonte mais perto das casas, mas continuam a ser as mulheres quem a vai buscar…
Velha Espingarda diz a seu filho que o véu (a burka) antigamente distinguia as mulheres respeitáveis das mulheres escravas que não usavam véu e podiam ser possuídas por quem quisesse. Hoje todas as mulheres são  livres já não há escravas e nenhuma mulher deve ser fácil de possuir nem se deve cobrir…
Quando Leila é chamada ao Imã, vai com o Corão e algumas mulheres, entre elas, Velha Espingarda. O Imã tenta fazer-lhes ver a necessidade de respeito pelo Corão e pelos mandamentos religiosos em que a mulher deve obediência ao homem e deve submeter-se mesmo que o homem lhe bata; que a mulher deve estar em casa e não se deve recusar a procriar; que os homens procurarão com o seu apoio e o do Xeque outras mulheres para casar e repudiá-las-ão. Leila pega no Corão e lê passagens para confrontar o Imã: “O Corão dá-nos regras para vivermos em comunidade, de respeito um pelo outro, de amor de homem e mulher. O resto não passa de interpretação das escrituras para interesses pessoais. As mulheres são irmãs dos homens. Alá quis que homens e mulheres fossem iguais, não espancadas para obedecer.” Ainda “Eu sei, eu leio, eu penso, eu interpreto e é isso que incomoda alguns homens da aldeia. Que mal há nisso? Porque não deveríamos ter o direito a ler a escrever e a pensar? Alá exalta os que acreditam e os que receberam a sabedoria. Quem não quer que as mulheres sejam exaltadas por Alá? Não são as mulheres tão muçulmanas como os homens? A terra fértil somos nós, que damos a vida. Porque não podemos decidir, como os homens, qual vai ser o nosso futuro? Os homens têm que ir buscar água.
O jornalista escreve: “Nunca nos devemos dar por vencidos. O infinitamente pode revelar-se mais majestoso do que tudo o que parece grande. A água, a brisa fresca, a vida e atá o Amos podem surgir a qualquer momento”
Neste filme, vê-se que há ventos de mudança a germinar. Já há uma rapariga que fala em contraceptivos, em casar por amor. Embora não houvesse eletricidade, por vezes, tinham acesso a lugares em que viam telenovelas mexicanas… Seria isso que as ia esclarecendo?
Enquanto decorre esta ação Leila ensina uma rapariga (Loubna) a ler e a escrever. Esta rapariga descobre que o rapaz de quem gosta, casou com uma outra rapariga mais rica, por imposição da mãe. Toma uma decisão e escreve a Leila “Decidi partir sem dizer nada a ninguém. Não sei para onde vou nem que vida vou ter. Mas serei livre e se dúvida reencontrarei o Amor”.
Desta forma, embora a emancipação das mulheres seja gradual, neste filme, a partida de Loubna é a esperança na mudança para a efectiva igualdade entre homens e mulheres. Leila venceu uma batalha e Loubna partiu, libertou-se à procura do seu caminho e da igualdade.
Não queria deixar passar um paralelo entre este filme e a obra “Lisístrata”, comédia clássica grega de Aristófanes. Lisístrata é uma mulher ateniense que apela a todas as mulheres do mundo grego Atenas e Esparta e seus aliados, durante a guerra do Peloponeso, no século V (a C), para não fazerem sexo com os maridos enquanto estes não pararem a guerra. Assim, juntam-se dentro da Acrópole protegendo também o tesouro para que os homens não o gastem mais com a guerra. Também há ataques, resistências e muitas alusões à mitologia. Mas as mulheres saem vencedoras.Claro que são duas obras completamente diferentes nos objectivos e na estrutura, mas tendo um ponto comum que é a voz, por vezes calada da Mulher e que se faz ouvir…Será que podemos considerar, por analogia, a Velha Espingarda como o coro clássico, sendo, por sua vez a consciência das mulheres hesitantes na “Fonte das Mulheres”?
 E agora, uma nota pessoal:
Gostei muito deste filme. As lutas dos povos pela justiça dizem-me muito e particularmente as lutas das Mulheres. Embora elas lutem sempre ao lado dos homens têm alguns aspectos da luta pela igualdade de género que ainda não estão resolvidas e por isso há lutas específicas que não deixam de ser comuns às vontades femininas e masculinas, como se viu na atitude de Sami.
 
 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Hoje está frio, mas o Sol brilha...

Já não escrevo desde setembro de 2012!...
Hoje está frio, mas o Sol brilha!... E ouço as "Heróicas" de Fernado Lopes Graça.
Num Mundo e num Portugal cada vez mais injustos, eu continuo a resistir, também...
E hoje apeteceu-me escrever de novo...
Vou transcrever uma das Heróicas

"Canto livre

Gema embora a terra inteira
acurvada a iníquas leis;
esta fonte sobranceira
jamais de rojo a vereis.

Hó! ninguém, ninguém a esmaga
que eu sou livre como a vaga,
que sacode sobre a plaga
o jugo de altos baixéis.

Liberdade é mote escrito
no céu, na terra e no mar!
Di-lo a fera no seu grito
e as aves cruzando o ar.
Di-lo o vento da porcela,
a vaga que se encapela
e nos espaços a estrela
em seu contínua girar.

Eu sou livre; eis minha crença,
nem força contra ela vale.
Que um tirano enfim me vença;
triunfarei por seu mal.

Trunfarei, que algemado
e diante dele arrastado,
sou livre! será meu brado
até ao momento final."

LIBERDADE
Que palavra tão maltratada!...
Como se pode falar em liberdade num país em que os direitos das populações estão cada vez menos assegurados... Num país em que o desemprego é um flagelo;  em que o tecido produtivo está destruido; em que só se fala em caridade, assumindo-se como natural o empobrecimento; em que o poder de compra tem baixado vertiginosamente e a economia se vai paralisando; num país em que paralelamente a esta situação alguém ganha, escandalosamente, 175000 euros (cento e setenta e cinco mil euros) por mês!... E a população, os trabalhadores estão, na sua maioria, próximos da miséria... Como se fosse inevitável viver-se assim e depois falam de crescimento, de competitividade... Quem querem enganar?

Mas liberdade, sim! Pode-se falar de Liberdade... Liberdade!...
"Quando a alegria for de todos"... A alegria e a liberdade devem ser de todos.
E só se é livre quando se tem um emprego com direitos (UM TRABALHO DIGNO).
Só se é livre quando se pode viver com segurança sem ser explorada(o) e claro, sem explorar...
E é pela Liberdade que eu, dentro das minhas possibilidades, vou lutando...
Lutarei pela justiça!... Sempre!