quinta-feira, 21 de março de 2013

Ainda sobre o Dia Intertnacional da Mulher



 
O Dia Internacional da Mulher passou, mas a luta pela igualdade de direitos e igualdade de oportunidades continua!...
Numa época de recessão as Mulheres continuam a ser as que mais sofrem porque as mentalidades obscurantistas se espelham nas medidas de impedimento da continuação da formação dos(das) jovens num ensino, de novo, mais elitista; pelo desemprego galopante que as mulheres são as primeiras a sentir (por exemplo: despedimento por maternidade depois de trabalhar numa empresa muitos anos)...
Estamos numa situação em que a Mulher cada vez mais é remetida para casa, não sendo possível que desempenhe os seus direitos de cidadnia...
Eu vi este filme e escrevi algo sobre ele que gostava de partilhar com quem me ler... Se puderem vejam-no também.
 
A fonte das Mulheres
Realizador: Radu Mihaileanu
Sinopse:
Numa aldeia do Magreb uma comunidade vive sem água e sem luz elétrica, mas é a água que desencadeia o processo de luta que move a ação de várias mulheres lideradas por Leila, que é apoiada por Velha Espingarda. A luta vai caracterizar-se por uma greve de sexo (greve ao amor) até que os homens da aldeia também vão buscar a água à única fonte que é distante. Há resistência porque, por tradição, esta é uma tarefa feminina.
Que dizer deste filme?!...
É um filme agradável e ao mesmo tempo denso, sobretudo nos diálogos que se revelam muito importantes, verdadeiros e imprescindíveis. Nada está a mais… Tudo faz parte de um conjunto que é equilibrado, e assertivo.A fonte, onde as mulheres vão buscar água, por caminhos íngremes e sinuosos, vai ser o ponto de partida para a revolta de mulheres.
O filme começa em paralelo com o nascimento de um bebé rapaz e a perda de um bebé na fonte porque uma mulher grávida cai com os baldes cheios de água e devido ao esforço aborta.
Leila, uma das mulheres da aldeia, que sabe ler, casada com o professor, vai liderar uma luta que se vai traduzir pela recusa do sexo. As mulheres recusam-se a ter relações sexuais com os maridos até que os homens também vão buscar água. Esta luta vai ter muitas resistências de algumas mulheres, mas sobretudo da maioria dos homens, do Imã (chefe religioso) e do Xeque (chefe administrativo). Há um homem que se destaca no apoio à luta das mulheres que é o professor Sami, marido de Leila e uma mulher que se destaca no sentido contrário, pela oposição que é Fátima, sogra de Leila e mãe de Sami.
Quando as mulheres hesitam em avançar com a luta pela água, Velha Espingarda, uma anciã que apoia Leila fala da sua felicidade até aos 14 anos porque com essa idade a obrigaram a casar, sem ela ter escolhido; porque também ela tinha perdido filhos na fonte, assim como todas as mulheres ali presentes. “Muitas formigas arrastam um leão”, referindo-se à luta.
Na comunidade alguns homens humilham e batem nas mulheres, obrigando-as a furar a greve. Velha Espingarda dá conselhos para conseguirem resistir.
Sami fala do Corão esclarecido – expansão do Corão das luzes, diz a Leila que a luta é justa, mas que ela seja prudente, fazendo a greve com respeito. Tenta que os pais deixem as raparigas ir à escola, mas há a resistência familiar e do próprio Imã que diz ser o lugar das raparigas perto das mães e haver o perigo delas quererem continuar a estudar na cidade.
Na cidade, depois de já terem posto as infraestruturas para a electricidade, que tarda em chegar e que chegará primeiro que a água, o burocrata diz a Sami que as mulheres se tiverem água mais perto, canalizada e eletricidade vão ficar preguiçosas e vão querer uma máquina de lavar roupa…
À medida que a greve avança começa a sentir-se desestabilização na vida da aldeia, o que também acontece pela chegada de um jornalista que outrora tinha tido uma relação com Leila. Esta situação ao ser descoberta por Sami, vai fazê-lo vacilar, mas por fim vai/ vão colaborar com as mulheres quando estas são proibidas de participar nas Festas das Colheitas onde iriam denunciar a situação.
Vai ser o véu (a burka) que vai permitir que as mulheres ultrapassem essa proibição. Conseguem com uma dança denunciar a situação e apelar para a solidariedade de outras aldeias. São crianças que vestem as burkas e são desviadas para uma caverna e vigiadas por homens, enquanto decorre a Festa das Colheitas. O jornalista escreve um artigo de apoio a esta luta.
Por fim, a luta é ganha. Os homens dizem que sempre as entenderam e as apoiaram…
A água é canalizada para uma fonte mais perto das casas, mas continuam a ser as mulheres quem a vai buscar…
Velha Espingarda diz a seu filho que o véu (a burka) antigamente distinguia as mulheres respeitáveis das mulheres escravas que não usavam véu e podiam ser possuídas por quem quisesse. Hoje todas as mulheres são  livres já não há escravas e nenhuma mulher deve ser fácil de possuir nem se deve cobrir…
Quando Leila é chamada ao Imã, vai com o Corão e algumas mulheres, entre elas, Velha Espingarda. O Imã tenta fazer-lhes ver a necessidade de respeito pelo Corão e pelos mandamentos religiosos em que a mulher deve obediência ao homem e deve submeter-se mesmo que o homem lhe bata; que a mulher deve estar em casa e não se deve recusar a procriar; que os homens procurarão com o seu apoio e o do Xeque outras mulheres para casar e repudiá-las-ão. Leila pega no Corão e lê passagens para confrontar o Imã: “O Corão dá-nos regras para vivermos em comunidade, de respeito um pelo outro, de amor de homem e mulher. O resto não passa de interpretação das escrituras para interesses pessoais. As mulheres são irmãs dos homens. Alá quis que homens e mulheres fossem iguais, não espancadas para obedecer.” Ainda “Eu sei, eu leio, eu penso, eu interpreto e é isso que incomoda alguns homens da aldeia. Que mal há nisso? Porque não deveríamos ter o direito a ler a escrever e a pensar? Alá exalta os que acreditam e os que receberam a sabedoria. Quem não quer que as mulheres sejam exaltadas por Alá? Não são as mulheres tão muçulmanas como os homens? A terra fértil somos nós, que damos a vida. Porque não podemos decidir, como os homens, qual vai ser o nosso futuro? Os homens têm que ir buscar água.
O jornalista escreve: “Nunca nos devemos dar por vencidos. O infinitamente pode revelar-se mais majestoso do que tudo o que parece grande. A água, a brisa fresca, a vida e atá o Amos podem surgir a qualquer momento”
Neste filme, vê-se que há ventos de mudança a germinar. Já há uma rapariga que fala em contraceptivos, em casar por amor. Embora não houvesse eletricidade, por vezes, tinham acesso a lugares em que viam telenovelas mexicanas… Seria isso que as ia esclarecendo?
Enquanto decorre esta ação Leila ensina uma rapariga (Loubna) a ler e a escrever. Esta rapariga descobre que o rapaz de quem gosta, casou com uma outra rapariga mais rica, por imposição da mãe. Toma uma decisão e escreve a Leila “Decidi partir sem dizer nada a ninguém. Não sei para onde vou nem que vida vou ter. Mas serei livre e se dúvida reencontrarei o Amor”.
Desta forma, embora a emancipação das mulheres seja gradual, neste filme, a partida de Loubna é a esperança na mudança para a efectiva igualdade entre homens e mulheres. Leila venceu uma batalha e Loubna partiu, libertou-se à procura do seu caminho e da igualdade.
Não queria deixar passar um paralelo entre este filme e a obra “Lisístrata”, comédia clássica grega de Aristófanes. Lisístrata é uma mulher ateniense que apela a todas as mulheres do mundo grego Atenas e Esparta e seus aliados, durante a guerra do Peloponeso, no século V (a C), para não fazerem sexo com os maridos enquanto estes não pararem a guerra. Assim, juntam-se dentro da Acrópole protegendo também o tesouro para que os homens não o gastem mais com a guerra. Também há ataques, resistências e muitas alusões à mitologia. Mas as mulheres saem vencedoras.Claro que são duas obras completamente diferentes nos objectivos e na estrutura, mas tendo um ponto comum que é a voz, por vezes calada da Mulher e que se faz ouvir…Será que podemos considerar, por analogia, a Velha Espingarda como o coro clássico, sendo, por sua vez a consciência das mulheres hesitantes na “Fonte das Mulheres”?
 E agora, uma nota pessoal:
Gostei muito deste filme. As lutas dos povos pela justiça dizem-me muito e particularmente as lutas das Mulheres. Embora elas lutem sempre ao lado dos homens têm alguns aspectos da luta pela igualdade de género que ainda não estão resolvidas e por isso há lutas específicas que não deixam de ser comuns às vontades femininas e masculinas, como se viu na atitude de Sami.